Surgiu então o fast fashion: a produção de moda em larga escala...
Houve um tempo em que a indústria da moda produzia duas coleções por ano: primavera/verão e outono/inverno. No entanto fatores como o crescimento da população, influência da mídia e facilidade das linhas de crédito ocasionaram, ao longo dos anos, um aumento da demanda por esses produtos e consequentemente a necessidade de acelerar sua produção. Surgiu então o fast fashion: a produção de moda em larga escala.
Além de alienar as preferências do consumidor e ditar padrões opressores, o fast fashion é conhecido por se manter à base de trabalho escravo e exploração de recursos naturais. Também é uma das áreas que mais gera prejuízos ambientais.
De acordo com o relatório “O Estado Real das Águas e da Biodiversidade no Brasil”, recentemente se verificou um aumento de 280% de contaminação fluvial proveniente do despejo de material tóxico gerado pelas indústrias. No ranking de indústrias mais poluentes do mundo estão a de eletricidade, a agricultura, o transporte rodoviário, o petróleo, a pecuária e a moda. Esta última sendo responsável pela emissão de 1,715 bilhões de toneladas de CO2.
Pode-se dizer que a produção têxtil e de vestuário é menos poluente do que as demais indústrias, porém o agravante é que a indústria da moda engloba todas elas. A moda também é responsável pelo descarte de 92 milhões de toneladas de resíduos sólidos por ano em todo o mundo. (Dados: Relatório da Indústria da Moda, Copenhagen Fashion Summit)
Aquela blusinha must have da estação passada que compramos, usamos duas vezes e deixamos abandonada em nosso armário é a responsável por manter esse sistema funcionando exatamente dessa maneira. É a responsável por destruir rios, biomas, flora, fauna e o próprio homem.
Para quebrar esse ciclo é necessário realizar um movimento de refreamento e crítica aos modelos de consumo tal como estão estabelecidos.
Segundo Henrique Diaz (2017) a partir do momento que a massa crítica de consumo ganha força, a indústria é forçada a repensar sua produção. É o que aconteceu com empresas como Coca- Cola, Nike e outras empresas globais que pressionadas pelos consumidores lançaram, nos últimos cinco anos, programas que visam a sustentabilidade ambiental, para reduzir o consumo de energia, as emissões de gases de efeito estufa e o consumo de água.
Além desse movimento, frente a situação ambiental delicada em que nos encontramos hoje, ainda é possível consumir a moda de forma consciente. Algumas alternativas são:
OPTAR PELO SLOWFASHION
Na contramão do fast fashion, o slowfashion propõe uma moda mais consciente com uma produção que utiliza os recursos naturais de forma responsável. É produzida em menor escala, o que confere às peças um caráter exclusivo, mais qualidade e durabilidade.
COMPRAR DE SEGUNDA MÃO
Para aqueles que acham inacessível consumir de marcas slow, uma opção é comprar de segunda mão. Quando compramos de segunda mão estamos abdicando de comprar um produto virgem que precisaria ser produzido do zero. Com isso economizamos recursos naturais e estendemos em 2 anos a vida útil de uma peça que iria para o descarte. Sem contar que as peças de brechó tem um charme único e muita história pra contar.
UPCYCLING
Resgatar uma peça e ressignificá-la possibilita que ela tenha outro fim. No upcycling podemos transformar aquele jeans velho em uma bolsa, aquela calça que não usamos mais em uma bermuda e por aí vai. Com essa atividade retomamos o potencial criativo da moda e a devolvemos sua função expressiva.
CLOTHING RENT - GUARDA ROUPA COMPARTILHADO
Uma ótima alternativa para quem pensa em se aposentar do armário e não comprar mais nada. O Guarda Roupa Compartilhado permite que o consumidor alugue peças disponíveis em um acervo compartilhado onde ele escolhe um plano e tem acesso à uma quantidade x de roupas por mês, podendo trocá -las periodicamente e variar os looks e composições sem possuir, de fato, a roupa.
CLOTHING SWAP - TROCA
Famoso fora do país, o Clothing Swap vem chegando para ficar. No conceito de Clothing Swap o guarda-roupa pode ser renovado trocando as roupas que já não são mais usadas, com outras pessoas que aderem à prática.
ARMÁRIO CÁPSULA
O Armário Cápsula propõe um guarda roupa reduzido onde entram em uso apenas peças essenciais. No Armário Cápsula o desnecessário e o supérfluo são abolidos, o que corrobora para que a desordem e sensação de não ter o que vestir desapareçam.
E dentre todas essas alternativas está aquela que é o maior desafio para todos os consumidores: simplesmente não consumir.
Durante um desfile de sua segunda linha, na temporada verão da Semana de Moda de Londres, Vivienne Westwood apelou aos presentes para que não comprassem nenhuma peça de roupa durante seis meses. E justificou que qualidade é mais importante do que quantidade. "Minha mensagem é escolham bem e comprem menos. Não comprem nada pelos próximos seis meses e reciclem suas roupas", disse. A estilista ainda se mostrou preocupada com os impactos ambientais que a moda tem gerado.
Segundo as previsões do Global Fashion Agenda e do Boston Consulting Group a indústria da moda deve enfrentar um enorme desafio nos próximos 15 anos, momento em que o consumo de roupas deverá subir 63% e chegar a números de produção na casa das 500 bilhões de camisetas. Imagine 500 bilhões de camisetas sendo produzidas em um ano!
Quantos animais morrerão para que cada uma delas possa ser estampada? No sertão milhares de famílias continuarão sem acesso à água enquanto vários litros serão desperdiçados para garantir que possamos vestir a camiseta da estação. Mulheres e crianças serão mantidas em regime de trabalho escravo, recebendo migalhas por dia, sem direito a sonhar com uma vida digna. Tudo isso para que a peça dos sonhos chegue à vitrine.
Quando viramos tão egoístas? É sobre isso que é a moda?
Não precisamos de mais uma peça em nosso armário. Precisamos superar a tendência e resgatar a consciência. Moda é atitude. E que essa atitude seja acima de tudo crítica e política.
Pra que tanta roupa se pra vestir nosso corpo, despimos o mundo?