O Lixo é Meu
Essa mania que temos de terceirizar tudo não tem funcionado nada bem quando o assunto é o nosso lixo.

Vivemos a era da “terceirização”. Em poucas palavras, após uma rápida pesquisa no Google, poderia descrever este “fenômeno” como o processo onde uma instituição contrata outra para prestar determinado serviço.

Num sistema capitalista como o que vivemos, essa prática foi amplamente difundida em todo o planeta. No Brasil, pelo menos 25% da mão de obra empregada é terceirizada.

Pensando de uma forma ainda mais ampla, olhando para o dia a dia, é simples identificar a facilidade com que costumamos “terceirizar”. Terceirizamos a educação dos nossos filhos, como se a escola fosse a única responsável por isso. Terceirizamos o serviço da casa. Terceirizamos nossa cozinha. Comemos cada vez mais na rua ou pagamos alguém para cozinhar para nós.

No auge da minha insana rotina, nestes últimos anos, eu raramente olhava nossa dispensa, ou geladeira. Simplesmente pegava a lista de compras que a Luzia (nosso braço direito aqui de casa) deixava e fazia as compras. Consegui terceirizar até mesmo nossa lista de compras!

Quando o assunto é lixo não é nada diferente. Pensa numa pessoa fresca: sou eu! Assim que mudamos para o apartamento onde moramos hoje, fiquei muito brava ao saber que só poderíamos descer o lixo nos dias de coleta. Como assim? Eu não admitia ficar com nenhum saquinho de lixo em casa... Como se ao colocá-lo na rua, este problema não fosse mais meu (!).

Sim, eu já fui assim.

Pensando sobre isso, não me lembro de ter ouvido alguém me ensinar: “Olha, todo o lixo que você produzir é responsabilidade sua. O fato de passa-lo pra frente não significa que ele desapareceu, e nem que desaparecerá!”

Tenho 37 anos, e quero crer que as coisas mudaram. Espero sinceramente que as gerações que vieram depois da minha tenham recebido um ensino mais consciente. Mas, eu não recebi. Não culpo ninguém. Esta é apenas uma constatação, que não me traz revolta, pelo contrário, me move para mudança, a fazer diferente, a ser diferente.

Não posso mais fingir que não estou vendo. Tudo o que consumo, na rua ou que trago para dentro de casa (tudo mesmo!) passa a ser minha responsabilidade, é meu. E seria no mínimo ético cuidar muito bem dessas coisas, me responsabilizando desde o seu uso até seu destino final.

É claro que seria perfeito se as empresas que produzem tudo o que usamos, compramos, nos dessem as mãos, fazendo valer a lei de logistica reversa (néam?!).

Os números são alarmantes (leia mais aqui). A geração de lixo no Brasil aumentou 29% de 2003 a 2014, o equivalente a cinco vezes a taxa de crescimento populacional no período, que foi de 6%.

Infelizmente, a quantidade de resíduos com destinação adequada não acompanhou o crescimento da geração de lixo.

Algo precisa acontecer e, não tenho dúvidas, começa comigo.