Derramamento de Óleo

Estamos vivenciando o 3o desastre ambiental apenas este ano no Brasil. Pode parecer coincidência, mas pode ser um sinal também. Tivemos o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG), o aumento do desmatamento na Amazônia, e o derramamento de óleo nos mares do Nordeste. Impossível em um primeiro momento não responsabilizar os governos pela atuação e resposta a estes danos. Mas também, não podemos deixar de refletir sobre nossa responsabilidade perante tais fatos: nossas escolhas.

PARA VOCÊ ENTENDER

O petróleo bruto possui contaminações de enxofre, nitrogênio, oxigênio e metais, e sua exploração provoca diversos danos ao meio ambiente, como o consumo de recursos naturais, impactos nas espécies, uso de água e solo, afetando profundamente os ecossistemas. Os acidentes podem acontecer em navios petroleiros, nas plataformas de exploração e nos oleodutos que fazem a distribuição do produto.

O derramamento de óleo no Nordeste já atinge 2.250 km da costa (do Maranhão a Salvador), uma região que sofre com recursos escassos e com uma grande dependência do setor turístico. Além disso, os impactos desse desastre são muitos, e vão desde a contaminação de espécies da fauna e flora marinha, como das regiões costeiras, intoxicação e vários outros malefícios para a população. 

Diversos mutirões estão sendo realizados com voluntários para limpezas das praias e, alguns deles já estão apresentando os sintomas do contato com o óleo nas praias. Mas, e aí? Como saber o nível de intoxicação dos animais e flora destas regiões, bem como por quanto tempo teremos que lidar com esta contaminação.

O RELATO DE UMA NORDESTINA

Escrever um texto sobre o óleo cru derramado no litoral do nosso Nordeste é algo que comove minha alma.

18/10/2019, dia do meu aniversário acordei com várias fotos e vídeos de como estava a praia dos Carneiros em Pernambuco (meu estado). A dor que senti nesse dia nunca será esquecida... "foi meu triste presente”. Não estava em Recife no sábado (19) e só no domingo (20), quando consegui ver com meus próprios olhos e limpar com minhas mãos o óleo das praias. Participei da limpeza na ilha do Francês que fica próximo a Suape – Cabo -PE. Sem dúvida, um dos dias mais tristes da minha vida, relatei com vídeos e fotos no @batepaposustentavel

O mar é a coisa que mais me representa VIDA e naquele dia senti como se estivesse vendo a morte. O óleo é grosso, pesado, denso e gruda muito. Todas as pessoas envolvidas na limpeza estavam em ato de desespero, limpando para salvar VIDAS.

Desde quinta-feira (17/10) à noite onde apareceram as primeiras manchas de óleo até o presente momento (27/10) já são 10 praias atingidas no estado, além do mangue. Recolhemos mais de 1000 toneladas de óleo, apenas no estado de Pernambuco.

O trabalho do Salve Maracaípe, precisa ser enaltecido. Desde setembro/2019 eles alertavam sobre o que iria acontecer, a profundidade da situação e o que estava acontecendo em outros estados. O governo tem atuado, mas não é suficiente e demorou muito para agir. O plano de contingência demorou tanto a ser acionado que o Ministério Público Federal entrou com uma ação contra a união. O correto seria que voluntários nem chegassem perto do litoral, e que muito menos isso chegasse às margens das nossas praias e mangues!

Nos primeiros dias de limpeza das praias, mesmo sendo alertada sobre o uso de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual: luvas, botas, máscaras e óculos), necessário para atuar na limpeza, a população colocou a mão na sujeira. Desesperados, mesmo com luvas e toda proteção, era muito difícil não se sujar.

Muitas pessoas adoeceram sentindo dores de cabeça, enjoo, respiração ofegante, entre outros sintomas. O óleo e tóxico e contém muitos componentes químicos que são até cancerígenos. Eu mesma fiquei com dor de garganta e péssima da respiração por quase 6 dias.

Atualmente (27/10) além das limpezas das micropartículas que estão no nosso litoral, é necessário agora o monitoramento por um longo tempo, tanto do fundo do mar, onde já temos vídeos de mergulhadores mostrando o óleo. Quanto para saber se outra mancha grande virá. Foram levantadas hipóteses e especulações, mas não sabemos ainda como esse óleo apareceu em nosso litoral.

A maior catástrofe ambiental no litoral do Brasil só nos deixará uma boa lembrança: “que a união faz a força”. Que orgulho do meu povo! Do meu nordeste!

Continuaremos lutando juntos, pois há muito a se fazer. Não sabemos o que vêm por aí, não sabemos de onde veio isso, nem o que vai acontecer nos próximos dias.

Para entender e se manter atualizado quanto a situação do estado de Pernambuco seguem algumas páginas dos projetos que estão coordenando o voluntariado: @salvemaracaipe @recifesemlixo @xoplastico @manifestoambiental @pesemlixo

O QUE FAZER?

A primeira coisa a se fazer é evitar ao máximo o contato com as águas atingidas, mesmo que as manchas não estejam visíveis, até que os estudos demonstrem um acesso seguro a elas. 

Você também pode ajudar as diversas ONGs e instituições que estão atuando localmente para a recuperação dos mares e praias atingidas, e cobrar do governo uma atuação com comprometimento e celeridade para as causas ambientais

O principal é pararmos para pensar no impacto dos nossos hábitos de consumo. Afinal, este petróleo só é explorado para atender nossas demandas e necessidades. Mas, até quando a natureza consegue tolerar esse descaso? Até quando vamos continuar consumindo combustível fóssil para nos locomover e produzir produtos, sem cobrar uma alternativa mais sustentável e que nos permita um maior equilíbrio no nosso relacionamento com o meio ambiente? 

Texto escrito a quatro lindas e abençoadas mãos:

Juliana Schulz é parceira da Casa Sem Lixo. Esposa do Jean, mãe do Henrique e do Felipe é também criadora/proprietária da empresa Festa Sem Lixo.

 Éllen Fernanda, é nordestina, administradora, especialista em Logística, Mestre de Gestão Ambiental e Sustentabilidade, ambientalista, professora e idealizadora do projeto Bate Papo Sustentável, no @batepaposustentavel, site www.batepaposustentavel.com.br